sábado, 6 de junho de 2015

ARTIGO: O MERCADO COMO ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA NO 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL: PERSPECTIVAS EM BUSCA DE SABERES MATEMÁTICOS REAIS E SIGNIFICATIVOS


Fonte: Google Imagens


Diego Sebastião Fagundes

RESUMO

Esse artigo abordará a importância do lúdico e das vivências para a educação matemática nos anos iniciais do ensino fundamental, tendo em vista os constantes relatos de dificuldades de aprendizagem advindos quase sempre de práticas docentes abstratas e muitas vezes distantes da realidade dos educandos. Sendo assim, optou-se por um estudo de caso envolvendo estudantes do 5º Ano do Ensino Fundamental, utilizando-se como dispositivo pedagógico a construção de um mercado. Através dessa atividade procurou-se comprovar que a ludicidade e as vivências contribuem de forma muito significativa para a obtenção de uma educação matemática de maior qualidade, pois as atribuições inerentes a essa metodologia atuam de forma muito positiva como agentes facilitadores de aprendizagem e de inserção social.

Palavras-chave: Ensino de matemática. Lúdico. Vivências. Maior qualidade.

1 INTRODUÇÃO

            As “crises pedagógicas” pelas quais o ensino de matemática vem passando há bastante tempo ocorrem em grande parte por causa dos devaneios metodológicos que são empregados em algumas intervenções no trabalho escolar. Toda essa quantidade de abstrações na maneira de ensinar tem influenciado substancialmente para que surjam de uma forma ou de outra as inúmeras dificuldades de aprendizagem aí existentes.
            É importante esclarecer que a abstração é um fator imprescindível na educação matemática, e que portanto não se defende aqui o extermínio desse componente. O que se deseja na realidade é que o docente perceba e se predisponha a entender que em várias situações a inserção de práticas pedagógicas calcadas na ludicidade e no senso comum são as mais viáveis e significativas para o crescimento dos estudantes; através disso o professor também contribuirá para diminuir intervenções puramente mecânicas, técnicas e muitas vezes surreais, que distanciam o fazer pedagógico de seus verdadeiros objetivos.
            De acordo com Brito e Palitot (2004) “[...] um bom professor não se faz apenas com teorias, mas principalmente com a prática e o estímulo a uma ação-reflexão e a uma busca constante de um saber mais e de um fazer melhor”. Enfatiza-se nesse sentido a necessidade de um plano estratégico que contemple momentos concretos onde as vivências dos educandos estejam presentes e diluídas em um projeto interativo de aprendizagem. O educador – e a escola como um todo – precisam ter em mente que o domínio da especificidade da matemática também passa por experimentações lúdicas, e que a amplitude desse envolvimento poderá gerar competências e habilidades que servirão para a vida toda. Quando a aprendizagem realmente acontece os saberes decolam para interações que vão muito além da matemática. Sem dúvida alguma o trato com coisas do cotidiano dos aprendizes e a ludicidade como um todo se encaixam muito bem nessa perspectiva e colaboram de forma expressiva para que os estudantes construam melhor suas idéias e conjeturem de maneira mais eficiente sobre suas ações visando o bem-estar pessoal, social e profissional.
            Tendo em vista os constantes relatos de dificuldades na aprendizagem de matemática nos anos iniciais do ensino fundamental (principalmente aqueles que se referem à solução de problemas e aos desdobramentos monetários) e a grande quantidade de casos de práticas docentes demasiadamente tradicionais, procurou-se realizar uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório para tentar responder as seguintes questões: “Por que há tanta dificuldade na aprendizagem de matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental?”; “Qual a abordagem/estratégia capaz de diminuir essa problemática?”. Resolveu-se então proceder-se a um estudo de caso visando apreciar a importância de uma atividade lúdica que envolva situações do cotidiano dos estudantes, objetivando, é claro, melhorias na aprendizagem do programa trabalhado (situações-problema, cálculo mental, operações com números decimais – adição e subtração, troco).
Dessa forma, a construção de um mercado foi escolhida para ser a estratégia a ser aplicada, pois o contexto popular e de inter-relações existente nesse ambiente é considerado bastante produtivo; já os participantes foram aprendizes de uma turma do 5º Ano do Ensino Fundamental de uma escola pública do município de Campo Novo-RS (durante as explanações no texto, em geral, far-se-á menção a “anos iniciais do ensino fundamental”, e não ao 5º ano em particular; o autor desse artigo será indicado por “professor orientador”). Os referidos educandos realizaram todas as etapas da montagem do mercado, desde o recolhimento de embalagens vazias até a participação nas situações de compra e de venda, operacionalizando cálculos com números decimais e desenvolvendo todas as competências e habilidades relacionadas ao conhecimento monetário. Por fim, esses mesmos estudantes contextualizaram as situações vividas na prática, agora no formato de histórias matemáticas copiadas do quadro e resolvidas com o auxílio dos conhecimentos adquiridos na atividade lúdica. No item 3 “Metodologia” desse artigo estarão descritos todos os passos da elaboração e execução da prática, incluindo imagens e registros dos trabalhos dos participantes; no item 4 “Considerações finais” serão discutidos os resultados, as hipóteses e as respostas às questões que fundamentaram o objeto de estudo.
            Através da elaboração deste artigo pretendeu-se comprovar a eficácia do apego pedagógico às situações do cotidiano no ensino de matemática, aliado aos enlaces que envolvem a ludicidade em si. Outra característica que se quer comprovar é a que se refere às atribuições que promovem caminhos para a prática social, e não somente àquelas que servem para o entendimento dos cálculos em si.


2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

            O ensino e aprendizagem de matemática precisa se beneficiar de técnicas, estratégias e abordagens diferenciadas para que se concretize, de fato, o desenvolvimento de competências e habilidades necessárias à aprendizagem da matemática em si, como também às que estabilizam e impulsionam à prática social.
            A cultura matemática nos primeiros anos do ensino fundamental é importante não somente pelo fato de se aprender a fazer cálculos, mas principalmente porque tem a característica de desenvolver o pensamento, a inventividade e a capacidade de agir dinamicamente frente às necessidades do dia-a-dia. Se o educando é estimulado através de situações matemáticas bem estruturadas e postas num plano atrativo e de interação, certamente essas desenvolturas passarão a existir, fortalecendo a modelagem dos conhecimentos matemáticos, assim como as relações intra e interpessoais em geral. Por isso é indispensável que o professor mobilize-se no intuito de vincular metodologias humanizadoras em sua prática docente, promovendo dessa forma ensinamentos reais e objetivos.
            Segundo Piovesan e Zanardini (2008), “A matemática tem valor formativo, que ajuda a estruturar o pensamento e o raciocínio relativo, porém desempenha um papel instrumental, pois é uma ferramenta que serve para a vida cotidiana e para muitas tarefas específicas em quase todas as atividades humanas”. Essa afirmação é bastante oportuna porque esclarece o grande equívoco que ocorre quando o educador insinua sua prática para o desenvolvimento de saberes puramente específicos e dissociados. Mais do que expressões, teoremas e cálculos isolados, o ensino de matemática precisa agregar valores que cristalizem qualidades reais e significativas nos estudantes, como as de consumidores prudentes e conscientes, por exemplo; planejadores de vida eficazes; trabalhadores honestos, responsáveis, dinâmicos e sabedores de seus direitos e deveres; enfim, atributos que qualifiquem os aprendizes para que se tornem agentes transformadores da sociedade.
            Desde já é preciso deixar claro que a intenção nesse estudo não é a de desmoralizar o modelo tradicional de ensino, pelo contrário, entende-se até que em muitos casos é verdadeiramente importante recorrê-lo. O que se deseja na verdade é demonstrar que em certos momentos é imprescindível que se utilize estratégias interativas de aprendizagem e que tenham relação com situações do cotidiano dos estudantes. Essas práticas diferenciadas são recorrentes porque facilitam a compreensão do trato com as operações e com os cálculos, estimulam o raciocínio lógico, desenvolvem as relações interpessoais, além de promoverem a criatividade. Toda essa dimensão enriquecedora contribui poderosamente para a formação de pessoas melhores, tanto no que diz respeito aos conhecimentos matemáticos como nos conhecimentos que se referem à vida em si.
            Ainda sobre esse assunto, vale caber-nos das palavras de Demo (apud FERREIRA, 2007) que afirma que

A sociedade moderna [...] exige um cidadão capaz de estar à sua frente, comandando o processo exponencial de inovação, não correndo atrás, como se fora sucata. Enfrentar desafios novos, avaliar os contextos sócio-historicos, filtrar informações, manter-se permanentemente em processo de formação são responsabilidades inalienáveis para quem procura ser sujeito de sua própria história, não massa de manobra para sustentar privilégios alheios.

            Esse discurso demonstra a necessidade da formação de educandos comprometidos com bons resultados nas mais diversas tarefas do dia-a-dia, daí a importância de uma base escolar aberta e consolidada por ações que invistam nesse sentido. A fragmentação do ensino pode ser considerada como uma das grandes responsáveis pelo fracasso escolar, pois a organização das aprendizagens em compartimentos isolados torna os estudantes meros peritos em determinados assuntos, descontextualizando a significação do conhecimento. Por isso a insistência por práticas dinâmicas e interdisciplinares, já que a conexão de saberes possui um caráter com bem mais propósitos em sua extensão formativa.
Outro aspecto que pode ser considerado como gerador de dificuldades de aprendizagem é o que está relacionado à falta de desprendimento dos docentes no que se refere aos conteúdos programáticos. Muitos professores são reféns do plano de estudos da disciplina, pois insistem em priorizar a totalidade da lista, e não a qualidade. É claro que todos os conteúdos são importantes, no entanto, o educador deve definir prioridades às quais satisfaçam as necessidades globais dos estudantes de forma mais efetiva. A partir desse processo poder-se-á cultivar determinados ensinamentos num contexto construtivista, por exemplo, dependendo, evidentemente, de cada circunstância.
A educação matemática precisa levar em consideração todo o conjunto de ideias, vivências e limitações do educando, para que se concretize de fato um fazer pedagógico mais justo e objetivo. Nesse sentido, buscamos um trecho dos Parâmetros Curriculares Nacionais (Matemática, 1ª a 4ª série), que enfatiza que “[...] o aluno é agente da construção do seu conhecimento, pelas conexões que estabelece com seu conhecimento prévio num contexto de resolução de problemas” (BRASIL, 1997, p.30). A insistência no retorno às coisas próximas dos estudantes é para que se caminhe para um ensino de matemática interessante e útil, com o qual seja possível beneficiar-se de suas aplicabilidades. Na maioria das vezes as dificuldades não estão nos cálculos propriamente ditos, mas sim quando estes estão inseridos como reflexos de situações-problema. Quando isso acontece, o entrave maior quase sempre está relacionado à abstração e/ou falta de capacidade de interpretação do enredo que antecede a solução, daí a necessidade de uma metodologia diferenciada que possibilite mediar essa problemática com maior robustez.
Os processos que envolvem o cálculo mental e a lógica matemática – principalmente nos anos iniciais do ensino fundamental – precisam se beneficiar de estratégias que permitam aos estudantes construir e manipular materiais concretos, pois dessa forma estarão cristalizando ideias e saberes bastante oportunos para o ampliação de conhecimentos matemáticos diversos, inclusive naquilo que diz respeito à negociação com o abstrato. É preciso ter em mente que nem todos os educandos aprendem do mesmo jeito, por isso é fundamental que o educador matemático explore todos os recursos possíveis na tentativa de facilitar a interiorização do entendimento.
Um outro componente essencial na busca pelo desenvolvimento de capacidades e desenvolturas é o ensino e aprendizagem de matemática por meio de resolução de problemas. Especialmente no primeiro ciclo do ensino fundamental, a utilização desse método pode promover o espírito de busca e de inquietação nos estudantes, desencadeando a formação de atitudes criativas, lógicas e que inspiram inúmeros valores. De acordo com Pinto e Soares (2001) “O aluno pensa produtivamente quando é estimulado e desafiado, sendo para isso necessário envolvê-lo em situações-problema para serem resolvidas”. Além dos benefícios para o desenvolvimento de competências e habilidades dentro da própria educação matemática, o método de resolução de problemas também propicia o surgimento de condições que auxiliam nos percursos diários dos estudantes, como inclusive afirmam novamente Pinto e Soares (2001): “O ser humano, em sua vida, quase sempre se depara com situações novas em que deve agir com criatividade, independência e espírito explorador. É possível através de situações-problema desenvolver no aluno desde cedo este tipo de iniciativa”. Contudo, é preciso ressaltar que a maior intensidade pedagógica na prática de solução de problemas matemáticos se dá quando o professor associa momentos de interatividade, manipulação e vivências; sem essa conjuntura a aprendizagem não estará completa, tendo em vista à ausência da experimentação e de suas atribuições.
O saber matemático tem sentido quando o aprendiz tem a oportunidade de atuar em ocasiões orientadas que reproduzam circunstâncias de vida nas quais operacionalize estimativas e expressões que o permita obter perspectivas de uma melhor qualidade de vida. Por isso a insistência no trabalho com cálculos soltos não configura o melhor caminho para o desenvolvimento cognitivo como um todo. Exercícios do tipo “arme e calcule” servem apenas para treinar os processos alusivos às quatro operações, mas não estimulam capacidades como a interpretação e a estratégia, por exemplo.
A inserção do lúdico nas práticas docentes ainda não é feita na proporção em que deveria. Nos meios acadêmicos nota-se pouca ênfase com relação à didática em geral, o que acaba ocasionando fissuras quanto ao conhecimento de novas abordagens pedagógicas e quanto à mediação em si. Sobre essa realidade vislumbramos o trecho abaixo no qual

Negrine (1994) sugere três pilares que sustentariam uma boa formação profissional, com a qual concordamos: a formação teórica, a prática e a pessoal, que no nosso entendimento, a esta última preferimos chamá-la de formação lúdica interdisciplinar. Este tipo de formação é inexistente nos currículos oficiais dos cursos de formação do educador, entretanto, algumas experiências têm-nos mostrado sua validade e não são poucos os educadores que têm afirmado ser a ludicidade a alavanca da educação para o terceiro milênio (apud ROJAS, 2000).

            O termo lúdico vem do latim ludus e quer dizer brincar. Neste brincar podemos inserir os jogos, brinquedos, atividades lúdicas, assim como o nome que é dado ao comportamento dos participantes desses eventos (ROJAS, 2000). A prática que envolve mecanismos lúdicos de aprendizagem contribui enormemente para os ensinamentos matemáticos, pois se trata de um modelo interativo que contempla a manipulação e a experimentação, fato esse que estimula em quase toda sua totalidade aspectos importantes como a criatividade e o pensamento lógico. Essas características favorecem para o desenvolvimento de saberes relacionados ao cálculo mental, à resolução de problemas e a interpretação matemática em si, proporcionando a diminuição considerável das dificuldades nessa área. O trabalho sustentado na abordagem lúdica tem mais sentido quando é organizado ao redor de praticidades, principalmente àquelas alusivas às vivências dos educandos.
            Quando o professor propõe uma atividade lúdica precisa ter em mente objetivos bem claros, pois a falta de intencionalidade pode ocasionar o desestímulo dos estudantes, irracionalizando o uso dessa estratégia. Muitos educadores vêm na ludicidade uma espécie de escape, utilizando-a desorientadamente para suprir, por exemplo, a falta de conteúdos. É necessário que a prática diferenciada (jogos, dinâmicas, brincadeiras, materiais concretos) seja considerada como um caminho que irá auxiliar para a compreensão de determinado conceito ou conhecimento, e não como uma proposta isolada firmada no desprendimento docente. Outro aspecto que precisa ser considerado no uso dessa tendência pedagógica é o que se refere ao bom planejamento da metodologia empregada.
Ainda sobre a necessidade da existência de uma razão para o trabalho com a ludicidade e com os materiais concretos, valemo-nos de um trecho de Fiorentini e Miorim (1990) que afirma que “[...] por trás de cada material se esconde uma visão de educação, de matemática, de homem e de mundo; ou seja, existe, subjacente ao material uma proposta pedagógica que o justifica”. Desse modo, admite-se que a utilização de materiais concretos e de atividades lúdicas em geral só tem validade quando há um ensinamento envolvido; se a proposta é construir uma maquete, por exemplo, o educador precisa saber explicar quais capacidades ou habilidades quer que os aprendizes desenvolvam (escala, noção de espaço, geometria, medidas). Sem isso a estratégia acabará perdendo o foco, determinando um criar por criar, um brincar por brincar.
O emprego de uma metodologia conjunta formada por situações-problema relacionadas ao cotidiano dos estudantes e envolvidas num contexto lúdico de aprendizagem, tem a oportunidade de melhorar significativamente as questões referentes às dificuldades de assimilação de conhecimentos matemáticos. Propostas de historinhas que retratam temas vividos em lojas, padarias, cooperativas, bancos, entre outros, favorecem para que o educador crie momentos interativos na prática, através do “faz de conta”. Nesse formato os aprendizes podem auxiliar diretamente na construção dos materiais usados (maquetes, cenários, dinheiro de mentira), além de participar nos diferentes processos de realização da atividade (pesquisas, entrevistas, falas de personagens).
Por fim, pensamos ser indispensável brindar a importância da ludicidade através das palavras do grande Vygotsky (apud SEÁRA et al., 2005), que dizem que

[...] o lúdico influencia extremamente o desenvolvimento da criança. É através do uso de objetos, projetando situações, criando e recriando regras e procedimentos que a criança aprende a agir, adquirindo iniciativa e autoconfiança. É a experiência que desencadeia o processo criativo e, nesta perspectiva, o brinquedo, o jogo ou atividade lúdica como um todo constituem-se em contextos privilegiados para o desenvolvimento infantil e a construção de conceitos.

            Essa passagem reafirma mais uma vez a intensidade da abordagem lúdica, habilitando-a inclusive para campos interdisciplinares. No entanto, vale ressaltar que os desacertos na aprendizagem de matemática nos anos iniciais do ensino fundamental não serão sanados somente com a inserção de materiais concretos, jogos ou a ludicidade em si; será preciso um grupo de vários métodos e estratégias para que se possa efetivamente diminuir as dificuldades existentes no processo. A maneira como o professor conduz sua aula também influencia fortemente às relações no cotidiano escolar, daí a necessidade de atitudes boas, de melhores posturas e de mediações humanizadoras.


3 METODOLOGIA

            Esse estudo foi realizado na Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. Tancredo Neves, no município de Campo Novo/RS. A instituição foi criada em 31 de dezembro de 1986 e hoje conta com 60 estudantes matriculados nas etapas que vão desde a Pré-escola até o 5º Ano do Ensino Fundamental.
            A turma participante da prática é a do 5º Ano, que possui 10 educandos. Primeiramente foi realizada uma apresentação prévia da intervenção, na qual o professor orientador falou um pouco de si e de sua formação, assim como da proposta de trabalho para o desempenho da atividade (foi feito um comentário de que a tarefa envolverá a construção de um mercado, tendo em vista as dificuldades que muitos estudantes têm em fazer troco e também outras operações que envolvem dinheiro; pediu-se ainda para que o grupo colaborasse e se envolvesse nos trabalhos).
Resolvemos dividir o relato e a descrição da intervenção em períodos que denominaremos “Momentos”, objetivando, é claro, uma melhor compreensão, por parte do leitor, da metodologia aplicada (vale observar que o professor orientador já havia estado na turma duas semanas antes da data de intervenção para solicitar que os educandos trouxessem de casa embalagens vazias de produtos adquiridos em mercados, com o propósito de servirem de apoio à nossa atividade).
1º Momento: Depois da conversa inicial foram formadas duplas por intermédio de sorteio (cada participante retirou de uma caixinha uma tira de papel com o nome de um colega, formando a dupla com o mesmo – conforme iam saindo, as duplas eram denominadas de 1 a 5); logo em seguida, o professor orientador pediu para que os estudantes imaginassem um mercado e descrevessem oralmente as coisas que existissem nele: produtos, caixas registradoras, funcionários, consumidores, açougue, padaria, dinheiro, etc.
2º Momento: Após, o professor orientador disse que a primeira coisa que os participantes iriam fazer era colocar os preços naqueles produtos onde não tinha (ao longo dos últimos dias os aprendizes foram trazendo para a escola embalagens vazias que tinham em casa; o professor orientador também trouxe um pouco e a cozinheira da escola auxiliou da mesma forma, guardando àqueles recipientes obtidos do preparo da merenda escolar; algumas dessas embalagens já tinham o preço fixado, outras não, por isso foi necessário que cada dupla de estudantes recebesse certa quantidade de produtos sem o preço – selecionada pelo professor orientador – para que fossem colocadas etiquetas com os referidos valores; de antemão o professor orientador já sabia quais eram os produtos que não tinham preço, desse modo optou então por fazer uma pesquisa para levantar as cifras; mais tarde o professor orientador escreveu no quadro o nome e o preço de cada produto de forma esquematizada, separando em divisões por dupla para facilitar a escrita nas etiquetas). Quando se concluiu essa etapa os participantes colocaram as embalagens num canto da sala de aula.

3º Momento: No passo seguinte foi explicado para a turma que no instante em que fôssemos representar compras e vendas em nosso mercado utilizaríamos dinheiro fictício. O professor orientador trouxe o dinheiro de mentira impresso em folhas de ofício para que as duplas pintassem de forma semelhante a original (foram confeccionadas todas as cédulas e moedas vigentes em circulação; cada dupla recebeu a mesma quantidade de folhas para pintar e recortar; o professor orientador fez questionamentos aos estudantes sobre o nosso sistema monetário – Real, cores do dinheiro, quantidade de centavos em um real, etc. – e em seguida anotou no quadro os valores de cada cédula ou moeda e ao lado as respectivas cores que as duplas deveriam utilizar para pintar (quadro 1).

MOEDA
QUANTIDADE CONFECCIONADA
COR
1 centavo
10
Laranja
5 centavos
16
Cinza (grafite)
10 centavos
16
Amarelo
25 centavos
10
Amarelo
50 centavos
16
Cinza (grafite)
1 real
10
Amarelo
CÉDULA
QUANTIDADE CONFECCIONADA
COR
2 reais
16
Azul
5 reais
16
Lilás
10 reais
10
Vermelho
20 reais
8
Amarelo
50 reais
6
Bege
100 reais
4
Azul
Quadro 1 – Especificação do dinheiro fictício envolvido na intervenção.

4º Momento: Mais tarde, os estudantes foram lembrados de que as compras precisariam ser carregadas quando saíssem do mercado; por isso cada educando confeccionou um pacote com papel pardo (totalizando 10 unidades) utilizando régua, lápis, tesoura e grampeador (aproveitou-se para comentar sobre a questão ecológica das sacolas de plástico).
5º Momento: Em seguida, os participantes puseram os produtos nas “prateleiras”, formadas por quatro carteiras empilhadas (as duplas 1, 2 e 3 responsabilizaram-se pelos alimentos; a dupla 4 organizou os materiais de limpeza; e a dupla 5 dispôs os produtos de higiene e beleza; foi observado junto aos aprendizes sobre a colocação/separação dos materiais de limpeza, higiene e alimentos nas “prateleiras”, principalmente para que se preservasse as questões de saúde pública – relação com um mercado de verdade/vida real).
6º Momento: Depois os participantes foram orientados a confeccionar demonstrativos com o nome dos produtos e os respectivos preços para anexar junto às “prateleiras” (o professor orientador conversou com o grupo sobre a necessidade desses demonstrativos, ressaltando a importância de ações de marketing e de propaganda nas relações de comércio; em seguida o professor orientador escreveu no quadro um demonstrativo para cada estudante copiar na metade de uma folha de ofício, utilizando pincel permanente; por fim, cada aprendiz fixou seu demonstrativo com fita na região da “prateleira” onde estava o respectivo produto).
7º Momento: Logo após o professor orientador organizou os “caixas” do mercado que iriam registrar e processar as compras (foram colocadas duas carteiras em frente às prateleiras; cada uma foi contemplada com uma pequena caixa de papelão, a qual serviria para acomodar o fluxo de dinheiro do mercado; os “caixas” também foram munidos (cada um) com 10 unidades de notas fiscais fictícias (figura 1), 02 lápis, 02 borrachas, 20 folhas de rascunho e certa quantia em dinheiro).


MERCADO_____________________________________________________
Campo Novo-RS
NOTA FISCAL
Data: ____/____/______
 Qtd.
Produto
Preço por Unidade





















Total

FIGURA 1 – Nota fiscal fictícia.
Fonte: Autor

8º Momento: Por fim, o professor orientador convocou os participantes para eleger um nome para o mercado (os estudantes escolheram um nome e escreveram o mesmo numa tira de papel que o professor orientador entregou; dobraram, e colocaram numa caixinha; em seguida um integrante sorteou um papelzinho, o qual definiu o nome escolhido: “MERCADO COMPRE AQUI”; o professor orientador escreveu com pincel permanente o nome sorteado numa folha de ofício e fixou logo acima das “prateleiras”).
9º Momento: Depois que o mercado ficou organizado, o professor orientador pediu a atenção dos participantes para explicar como seria nossa interação na prática (o professor orientador falou que iria ser feito um rodízio onde primeiramente uma dupla faria o papel de caixas registradores, e a outra dupla faria o papel de compradores, até que todos tivessem participado das duas atuações; o professor orientador dará uma lista de compras para cada comprador (quadro 2)1 e certa quantia em dinheiro; cada comprador irá se dirigir às “prateleiras” para apanhar os produtos da lista e em seguida passará nos “caixas” para efetuar a operação de compra; os “caixas” deverão preencher a nota fiscal com os dados do produto, fazer os cálculos, receber o pagamento e dar o troco para o comprador (o professor orientador motivará os “caixas” e os compradores para efetuarem os cálculos mentalmente (valor da compra e troco); havendo dificuldades poderão utilizar os rascunhos); depois disso os “caixas” deverão colocar os produtos nos pacotes e entregar para os compradores; cada comprador, por sua vez, terá que trazer as compras, o troco e a nota fiscal de forma correta para o professor orientador conferir; o professor orientador irá recolher as notas fiscais preenchidas pelos participantes, assim como os rascunhos que por ventura utilizarem; a ordem para participar da atividade foi estabelecida pelo professor orientador: primeiramente a dupla 1 começa como “caixa” e a dupla 2 como compradora, depois trocam entre si; em seguida a dupla 3 e 4 repetem a mesma sequência respectivamente; e por fim a dupla 5 inicia como “caixa” e a dupla 1 como compradora, e depois invertem os papéis).

PRODUTOS
QTD. DE DINHEIRO ENTREGUE PELO PROFESSOR ORIENTADOR
VALOR DO TROCO
Lista 1:
01 margarina Soya 1 kg – R$2,45
01 creme dental Sorriso 100g – R$1,95
01 detergente Limpol 500ml – R$1,35
R$6,00
R$0,25
Lista 2:
01 shampoo Clear – R$10,50
R$15,00
R1,50
Quadro 2 – Especificação das listas e rotinas de compras
PRODUTOS
QTD. DE DINHEIRO ENTREGUE PELO PROFESSOR ORIENTADOR
VALOR DO TROCO
01 cera amarela Sacy – R$2,75
01 caixa de fósforos Queluz – R$0,25



Lista 3:
01 Nescafé Tradição – R$4,00
01 óleo de soja Soya 900ml – R$2,35
01 leite Bom Gosto 1 lt– R$1,34
R$8,00
R$0,31
Lista 4:
01 OMO Multiação 1 kg– R$6,00
01 creme dental Sorriso 180g – R$2,70
01 doce de frutas Incotril 400g – R$2,35
R$12,00
R$0,95
Lista 5:
01 condicionador Skala 1000g – R$5,00
01 margarina Qualy 500g – R$3,99
01 desinfetante Ajax 500ml – R$3,10
R$15,50
R$0,41
Lista 6:
01 Nescau 400g – R$4,30
01 óleo de soja Camera 900ml – R$2,30
01 creme dental Colgate 90g – R$1,80
R$10,00
R$1,60
Lista 7:
01 shampoo Pantene 200ml – R$8,80
01 amaciante Fofo 500ml – R$6,80
R$20,00
R$4,40
Lista 8:
01 café Amigo – R$3,10
01 caldo de galinha Kitano – R$2,45
01 nata Piá 200g – R$2,30
R$10,00
R$2,15
Lista 9:
02 corantes para tecido Tingecor – R$1,35
R$5,00
R$2,30
Lista 10:
01 gel fixador Bozzano – R$3,48
01 gelatina Apti 85g – R$0,70
R$5,00
R$0,82
Quadro 2 – Especificação das listas e rotinas de compras

            10º Momento: Após a realização da atividade lúdica o professor orientador chamou os estudantes para que sentassem em seus lugares com o objetivo de fazer uma breve socialização da prática (questionamentos sobre o que os participantes mais gostaram; sobre as dificuldades, aprendizagens e um comentário do professor orientador da importância desse tipo de atividade). Mais tarde o professor orientador anotou no quadro duas situações-problema em forma de histórias matemáticas semelhantes àquelas vividas nas atividades do mercado; os aprendizes foram orientados a copiar as histórias matemáticas nas duas folhas de ofício entregues pelo professor (uma em cada), e resolvê-las; os estudantes não precisaram se identificar; depois de concluída a tarefa o professor orientador recolheu os trabalhos dos estudantes, agradeceu a todos e finalizou a prática de intervenção, despedindo-se.

Atividade 12:
            Daniel recebeu uma lista de compras do mercado com os produtos da tabela abaixo, e mais R$12,50 para o pagamento:
Qtd.
Produto
Preço
01
Condicionador Skala 1000g
R$5,00
01
Margarina Soya 500g
R$3,99
01
Desinfetante Ajax 500ml
R$3,10

a) Qual o valor total da compra realizada por Daniel?
b) Quanto de troco Daniel recebeu no caixa do mercado?

Atividade 2:
            A mãe de Pedro pediu para que ele fosse ao mercado e comprasse os seguintes produtos:
01 hidratante Nívea → R$5,50
01 desodorante Dove → R$4,90
01 molho de pimenta Kitano → R$3,95

            Ela deu R$15,00 para ele fazer o pagamento, e recomendou para trazer o troco direitinho.
a) Quanto Pedro gastou no mercado?
b) Quanto restou de troco?


3.1 Resultados e discussões

            O primeiro aspecto marcante dessa prática de intervenção ocorreu no momento da formação das duplas. A ideia do professor orientador no instante em que planejou a dinâmica do sorteio era exatamente a de que a composição dos pares se desse de maneira organizada, justa e que permitisse que os estudantes trabalhassem com parceiros diferentes daqueles que estavam acostumados na rotina em sala de aula; sendo assim, criar-se-ia a expectativa (que se confirmou) de que fossem realizadas possíveis trocas de ideias, de saberes matemáticos e de valores em geral, exaltando contundentemente as vivências e a socialização. Nesse sentido, registramos o diálogo entre um participante da atividade e o professor orientador, no qual o primeiro demonstra descontentamento com o nome do companheiro sorteado (aqui utilizaremos a letra “E”, seguida dos números de 1 a 10 para indicar os nomes dos estudantes participantes da prática, e as letras “PO” para designar “professor orientador”):
E3: Professor, não vou sentar com o E2!
PO: Por que não?
E3: Porque ele não sabe nada e aí só a gente que faz as “coisa”.
            Impasses como estes tornam-se muitas vezes verdadeiras batalhas, dificultando as tarefas escolares. Nesse caso, em especial, buscou-se o diálogo com o aprendiz, procurando mostrar-lhe os aspectos bons daquele momento, tendo em vista a possibilidade de ele próprio auxiliar para que o colega desenvolvesse a iniciativa, a vontade e a capacidade de agir. Em suma, o professor orientador tentou motivar os dois participantes, mostrando-lhes as possibilidades de cada um. Após algumas contestações percebeu-se a eficácia da mediação no conflito, a medida que a dupla começou a produzir suas atividades de forma mais efetiva e harmoniosa.
            A questão de como carregar as compras também foi muito bem-sucedida, pois através da confecção de pacotes de papel foi possível salientar pontos importantes relacionados à preservação do meio ambiente, sobretudo no que se refere ao tempo de decomposição das sacolas de plástico na natureza. Essas implicações interdisciplinares são bastante favoráveis porque promovem maiores rentabilidades pedagógicas e de assimilação de conhecimentos. Já com relação ao momento em que os aprendizes foram orientados a organizar os produtos nas “prateleiras”, observou-se um diálogo bastante interessante com base nos diferentes pontos de vista:
E10: Gente, como é que vai ficar uma “pasta de dente” aqui e a outra lá no outro lado? Tem que ficar tudo junto!
E3: E tem que “deixa” a marca virada pra frente.
            Nesse instante o professor orientador deixou que as duplas organizassem livremente as embalagens. Contudo, percebeu-se através do diálogo a preocupação do participante E10 com os arranjos e a estética da “prateleira”; o participante E3, por sua vez, indicou que os rótulos dos produtos deveriam ficar posicionados para frente, ou seja, para a direção onde os consumidores pudessem ver. Por outro lado, à medida que os produtos eram organizados, notava-se que as duplas não observavam a separação quanto ao gênero, ficando, por exemplo, os alimentos junto com os materiais de limpeza. O professor orientador interveio, questionando:
PO: Será que é correto colocar comida junto com materiais de limpeza?
E(Todos):(Silêncio...)
PO: Num mercado de verdade será que é assim que acontece?
E(Todos): Não!
PO: Por que é que lá são separados?
E1: Pra quando a gente for “compra” “sabê” que ta tudo lá separado, cada coisa num lugar.
E6: Eu acho que é porque cada coisa tem uma prateleira.
            O diálogo demonstra que os participantes buscaram respostas parecidas para a questão, e que não estavam erradas. No entanto, eles ainda não tinham se dado conta de que o problema maior era o que envolvia aspectos de saúde e de higiene, e não só os relacionados à dificuldade em encontrar determinados produtos pela falta de seções distintas. Aproveitando esse momento o professor orientador fez uma conversação sobre vigilância sanitária e intoxicação alimentar, esclarecendo todas as dúvidas dos estudantes.
            Já nas interações com o mercado “em funcionamento” foi possível observar que a turma em geral demonstrou muitas dificuldades para realizar cálculos simples de soma e de subtração; na maioria dos casos percebeu-se a falta de interesse por parte dos educandos, pois diante de determinados cálculos nem ao menos pensavam na técnica de resolução, e já iam perguntando a resposta para o professor orientador. Ao se perceber essa sistemática resolveu-se insistir mais para que os participantes buscassem uma solução, o que acabou configurando em resultados satisfatórios. Os participantes E2 e E5 tiveram maiores dificuldades para realizar os cálculos mentalmente, aí usaram o rascunho.
            É interessante destacar uma determinada passagem onde um aprendiz que fazia o papel de comprador percebeu que o “caixa” havia feito um cálculo errado, cobrando a mais pelos produtos:
E5: Deu R$16,60.
E8: Não, ta errado. Tem que dá R$15,60. Não adianta “quere” me “logra”.
            Nota-se que o participante E8 fez o cálculo mentalmente (8,80+6,80) e de forma correta. O participante E5, que fazia o papel de “caixa”, também o fez, mas de forma errada; desse modo, resolveu-se utilizar o rascunho para tirar a dúvida:
E5: É mesmo, dá R$15,60. É que eu tinha feito na minha cabeça que 8+6 dava 15, e daí mais 1 dava 16.
            Essa situação foi fantástica porque mostrou que o aprendiz E8 soube agir como um consumidor atento aos seus gastos, não se deixando enganar na hora de pagar e receber o troco. Atitudes como estas certamente serão levadas para a prática na vida cotidiana.
            Foi marcante, no entanto, a naturalidade com que as relações de compra e de venda aconteceram durante a atividade no mercado. Surpreendeu o fato dos participantes não terem questionado, por exemplo, sobre qual operação matemática utilizar quando tinham que somar os valores dos produtos (adição) e depois descontar do valor que o comprador dava para pagar (subtração). Quando se trabalha de uma forma totalmente tradicional geralmente aparecem questões do tipo “Essa conta é de mais ou de menos professor?”. Outro aspecto interessante foi o predomínio da calma e da motivação durante as tarefas.
A passagem para os problemas matemáticos escritos no quadro também foi muito interessante. Observou-se que a prática anterior havia auxiliado para que os estudantes fizessem a interpretação das histórias matemáticas com muito mais facilidade; do mesmo modo os arranjos e cálculos surgiram de maneira mais segura e objetiva. Esse contexto é extremamente gratificante, pois evidencia as contribuições da intervenção lúdica para a construção de um modelo de educação matemática firmado em evoluções realmente significativas.


4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Com a realização desse estudo foi possível comprovar a eficácia do uso da abordagem lúdica e das vivências na educação matemática nos anos iniciais do ensino fundamental, tendo em vista as visíveis melhorias observadas através da prática de intervenção.
            Ficou claro que as inúmeras dificuldades existentes no ensino de matemática nessa etapa ocorrem porque a maioria dos professores ainda não desenvolveram uma visão lúdica apurada, sobretudo no que se refere às questões de lógica e de estratégia envolvidas num contexto de proximidade para os educandos. Toda essa conjuntura precisa ser elaborada com o intuito de promover a experimentação e a praticidade dos atos, senão não será dado o verdadeiro sentido à aprendizagem. As inserções puramente abstratas possuem a característica de contemplar alguns poucos, por isso as lacunas desse processo causam tanto transtorno.
            Sem dúvida alguma, estratégias modeladas por propostas de ludicidade e de interações do cotidiano podem auxiliar em muito para diminuir a problemática das dificuldades na educação matemática que ocorrem nos primeiros anos do ensino fundamental. A prática da montagem de um mercado aqui realizada comprovou essa máxima, pois a partir dela os estudantes conseguiram fazer troco e operacionalizar com dinheiro de maneira espontânea e prazerosa; também conseguiram perceber as dinâmicas dos cálculos com muito mais facilidade. Esse trabalho ainda permeou o trato com o abstrato, visto que no momento em que os educandos precisaram demonstrar seus conhecimentos de forma escrita, fizeram várias referências à atividade feita anteriormente. Além disso, a promoção de valores foi fortemente estabelecida através de mecanismos de socialização, o que elevou o pleno desenvolvimento para a prática e a justiça social.
            Contudo, deixamos aqui a sugestão para que os educadores invistam em metodologias diferenciadas que permitam aos educandos cristalizarem saberes matemáticos reais e significativos, já que a insistência em conhecimentos específicos não contribui muito em sua totalidade para a formação de cidadãos verdadeiramente preparados para as mais diversas situações da vida cotidiana.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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MARKETING AS STRATEGY IN 5 YEAR TEACHING OF ELEMENTARY EDUCATION: PERSPECTIVES IN SEARCH OF REAL AND SIGNIFICANT MATHEMATICAL KNOWLEDGE

ABSTRACT

This article will address the importance of play and the experiences of mathematics education in the early years of elementary school, in view of continuing reports of learning difficulties arising from teaching practices often abstract and often far from the reality of students. Therefore, we chose a case study involving students in the 5th year of elementary school, using as a pedagogical device to build a market. Through this activity we sought to prove that the playfulness and experiences contribute very significantly to the achievement of a higher quality of mathematics education, because the duties inherent in this methodology in a very positive act as agents and facilitators of social learning.

Keywords: Teaching Math. Recreation. Experiences. Higher quality.




1 As listas de compras que os compradores receberam se resumem ao item “Produtos” (sem a indicação dos preços) do quadro; os demais dados servem apenas para ilustrar melhor a dinâmica dos processos de compra.

2 A lista de compras da Atividade 1 é a mesma Lista 5, do Quadro 2.

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